Desconstruir estereótipos de género

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Os estereótipos de género ainda têm um impacto profundo na sociedade, limitando as escolhas e oportunidades de homens e mulheres. Desde a infância, somos condicionados por expectativas sociais que definem o que é "apropriado" para cada género, moldando as nossas decisões e trajetórias de vida. No mercado de trabalho, esta separação é evidente, com homens e mulheres a serem incentivados a seguir carreiras distintas.

A realidade das mulheres em Portugal

Em Portugal, as mulheres representam 52,4% da população e são as mais qualificadas academicamente – em cada 100 pessoas com ensino superior, 61 são mulheres. Contudo, esta vantagem em educação não se traduz em igualdade no mercado de trabalho. Dados da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG) mostram que as mulheres continuam a estar sub-representadas em posições de poder e decisão. Enquanto 61% das mulheres ocupam cargos intelectuais e científicos, apenas 38,9% alcançam posições de liderança, como gestoras ou representantes no poder legislativo.

Ainda mais preocupante é a segregação nas escolhas educativas. Áreas como educação (77%), saúde (77%) e ciências sociais (65%) são dominadas por mulheres, mas cursos de engenharia e tecnologias de informação continuam a ter taxas de feminização muito baixas (17% e 27%, respetivamente). Este padrão reflete-se no mercado de trabalho, onde as mulheres têm menos acesso a empregos de alta remuneração, predominando em setores tradicionalmente associados ao cuidado e ensino.

Desigualdades estruturais no mercado de trabalho

A desigualdade de género no mercado de trabalho é um desafio persistente. Apesar de serem maioria nas universidades, as mulheres ganham menos do que os homens – em média, 13% menos. Isto equivale a 48 dias de trabalho "gratuito" por ano. Além disso, as mulheres realizam 74% das tarefas domésticas, passando mais de 2 horas diárias em trabalho não remunerado em comparação com os homens. Estas desigualdades perpetuam um ciclo onde as mulheres, embora mais qualificadas, têm menos oportunidades de progressão na carreira e sofrem mais com a falta de equilíbrio entre a vida profissional e pessoal.

O Fórum Económico Mundial estima que, ao ritmo atual, a igualdade de género global só será alcançada dentro de 131 anos. Estes números são um lembrete de que a mudança é urgente e necessária. A igualdade não é apenas uma questão de justiça social, mas também um imperativo económico. Organizações e países que promovem a equidade de género tendem a ser mais inovadores e prósperos.

É interessante explorar como os estereótipos de género afetam setores específicos, como a tecnologia, a engenharia e as ciências. Por exemplo, as mulheres continuam a estar sub-representadas em carreiras STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática), apesar de serem as principais consumidoras de produtos tecnológicos e de estarem cada vez mais envolvidas no desenvolvimento destas áreas. Um estudo da UNESCO, por exemplo, revela que apenas 35% dos investigadores no mundo são mulheres, e apenas 30% dos estudantes em áreas de STEM são do sexo feminino.

Equidade e igualdade: qual a diferença?

Para avançar na direção certa, é importante entender a diferença entre igualdade e equidade. A igualdade refere-se a garantir os mesmos direitos e oportunidades a todos, independentemente do género, raça ou outras características pessoais. No entanto, a equidade vai além, reconhecendo que pessoas diferentes enfrentam desafios distintos. Portanto, a equidade implica ajustar as oportunidades e recursos de acordo com as necessidades de cada um, para que todos possam alcançar os mesmos resultados.

Na prática, isto significa que, enquanto a igualdade se esforça por ser imparcial, a equidade considera as barreiras únicas que certos grupos enfrentam e procura removê-las. No contexto de género, isto pode significar criar políticas que facilitem a conciliação entre a vida pessoal e profissional, ou programas que incentivem mais mulheres a ingressar em áreas como a ciência e a tecnologia.

Promover a mudança através da educação e consciencialização

Para alcançar a igualdade de género, a mudança tem de começar cedo, na educação e nas normas sociais que moldam as perceções de género. As crianças são expostas desde tenra idade a normas que associam rapazes a certas atividades e raparigas a outras. Esta separação começa nos brinquedos, nas cores das roupas e continua ao longo da vida, influenciando as suas escolhas académicas e profissionais. Quantas vezes vemos uma boneca ser oferecida a um menino ou um carro a uma menina? Estes pequenos gestos reforçam as ideias de que há atividades e profissões "para meninos" e "para meninas". Desafiar estas normas é crucial para criar uma sociedade mais equitativa. Programas educativos que integram os princípios da igualdade de género são uma ferramenta poderosa para desconstruir estereótipos e capacitar as gerações futuras a lutar por um mundo mais justo.

Outra perspetiva importante a ser considerada é o papel ativo dos homens na promoção da igualdade de género. Muitas vezes, as discussões sobre igualdade de género concentram-se nas mulheres, mas a participação dos homens é essencial para que a mudança ocorra. Por exemplo, programas de mentoria para mulheres em áreas dominadas por homens ou a promoção de um equilíbrio nas responsabilidades domésticas podem ser passos importantes para alcançar a equidade. Incluir estatísticas sobre como a participação dos homens em tarefas domésticas ou na promoção de igualdade no trabalho tem efeitos positivos no bem-estar das famílias e na performance empresarial pode ser relevante.

Alcançar a igualdade de género não é apenas uma questão de justiça social; é também um imperativo para promover uma sociedade mais inclusiva e próspera. A igualdade de género tem um impacto direto no desenvolvimento económico, social e político. Empresas que promovem a equidade tendem a ser mais inovadoras, a reter melhor os talentos e a ter equipas mais diversificadas, o que se traduz em maior competitividade.